TONELADAS DE ARROZ PIRAM-SE PARA A ZÂMBIA

Mais de 200 toneladas de arroz produzidas anualmente pelos agricultores do município dos Bundas, na província do Moxico, são desviadas e comercializados na República da Zâmbia, devido à falta de máquina de descasque do cereal. É, digamos, o regime do MPLA no seu melhor…

A informação foi avançada esta quinta-feira pelo director municipal da Agricultura daquela municipalidade fronteiriça, Canhica Laston, quando falava sobre o estado actual do sector na circunscrição.

Segundo o responsável, por falta de apoios na aquisição de máquinas de descasque deste cereal, um dos mais consumidos no país, as quatros cooperativas que asseguram a produção deste alimento naquela região preferem transportar o arroz para a vizinha República da Zâmbia onde encontram facilidade de descasque do produto e a consequente venda.

Canhica Laston lamentou que o preço de comercialização deste produto naquele país tem estado muito abaixo do mercado, provocando vários prejuízos aos pequenos produtores.

A municipalidade conta com 22 cooperativas, que se dedicam, essencialmente, à produção do arroz, milho, massambala e batata-doce, informou. A actividade agrícola na circunscrição é igualmente afectada pelo défice de sementes, solicitando apoio para a sua disponibilização, a fim de se maximizar a produção.

Bundas é um dos nove municípios da província do Moxico, contando com 37.817 quilómetros quadrados. Lumbala Nguimbo é a sede municipal, possuindo igualmente, as comunas do Lutembo, Chiume, Luvuei, Ninda, Mussuma Mitete e Sessa.

Localizado a sul da cidade do Luena, capital provincial, o município é limitado a norte pelos municípios do Moxico e Alto Zambeze, a leste pela República da Zâmbia, a sul pelos municípios de Rivungo e Mavinga (na vizinha província do Cuando Cubango), e a oeste pelo município de Luchazes.

No dia 11 de Outubro de 2017 iniciou-se um novo ano agrícola que foi marcado por um discurso do Presidente da República, general João Lourenço, no município do Cachiungo, província do Huambo, perante milhares de pessoas.

Nessa mesma altura, no Cuanza Norte os agricultores manifestaram o seu apoio ao Presidente, lembrando que não tinham catanas, enxadas, limas, ancinhos, machados, sachos etc..

Também os camponeses do município da Cameia, província do Moxico, estavam solidários e disseram que iam deixar de produzir arroz na presente campanha agrícola, por falta de máquinas de descasque do cereal.

Acrescentaram que a decisão se devia ao facto de as 23 toneladas produzidas na última época continuarem nos armazéns do município por falta de máquinas…

O general João Lourenço exortou o sector agrícola a colocar o país a “produzir a comida de que precisa”, estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas. Por outras palavras, realçou o fracasso da anterior, e da anterior, e da anterior, governação do MPLA e de José Eduardo dos Santos.

Como muito bem sabe o general João Lourenço, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.

Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

A maior província de Angola esperava produzir em 2018 cerca de 50.000 toneladas de arroz, através das 100 famílias que no Moxico ainda se dedicam à cultura, mas o objectivo passa por envolver 30.000 a médio prazo.

Os números são do próprio Governo Provincial do Moxico, um território que na última fase do período colonial português em Angola garantia 270.000 toneladas anuais de arroz, cultura que se perdeu com a guerra civil que se seguiu a 1975, com o êxodo da população.

“As populações foram obrigadas a ir mais para as cidades, outras atravessaram a fronteira de Angola e estavam instaladas tanto na Zâmbia como na República Democrática do Congo. Isso é que fez com que a capacidade humana escasseasse e o factor guerra fez também com que muita maquinaria fosse destruída e abandonada”, explicou, em 2018, o director provincial de Agricultura do Moxico, Tomás Manuel Inácio.

Até 1975, o Moxico era mesmo o maior produtor de arroz em Angola, com a produção concentrada em cinco dos nove municípios, casos do Alto Zambeze, Luacano, Cameia, Moxico e Luchazes. Alguns destes municípios são mesmo do tamanho de países europeus, ou não tivesse a província um total superior a 223 mil quilómetros quadrados, para uma população actual de 750 mil habitantes.

Apesar da dimensão, actualmente apenas 100 famílias do Moxico, na Cameia e Alto Zambeze, se dedicam à produção de arroz, num esforço para retomar a aposta nesta cultura assumido nos últimos dois anos: “Porque de facto não têm o hábito de cultivar o arroz. Agora é que estamos a incentivá-los, porque além da alimentação também serve para uma cultura de renda”, acrescentou Tomás Manuel Inácio.

“Esperamos chegar às 30.000 famílias, nos municípios da província seleccionados para a cultura do arroz”, apontou o responsável provincial do sector.

O então vice-governador da província do Moxico confirmou contactos com investidores do Brasil e da África do Sul, interessados em aposta no sector agrícola.

“E pensando não só em satisfazer o mercado local, o mercado nacional, mas pensando já na exportação”, garantiu Carlos Alberto Masseca, dando ainda como exemplo desta aposta o próprio mel, que já foi um dos produtos agrícolas exportados pelo Moxico.

“Sempre foi explorado de forma artesanal mas já esteve no mercado internacional. E nós acreditamos que há mercado para nós pormos outra vez este produto à venda. E criarmos esta ‘Marca Moxico’, vendermos a ‘Marca Moxico’”, sustentou o vice-governador, elogiando o potencial agrícola daquela província do leste de Angola.

Imagem: Cartoon de Sérgio Piçarra
Folha 8 com Angop

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